Seguidores

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Caríssimo,

O silêncio. Não gosto deste silêncio teu. Soa como estar esperando por algo que não vem, que não tive... Ah, tenho medo de o silêncio durar uma vida. E tapo os olhos para não ver o que me sugere teu silêncio...
Mas mudemos de assunto. Sabe, tenho dado ultimamente a andar como um autônomo. As folhas passam pelas calçadas levadas pelo vento. Vez em quando sinto que ele me leva e vou. Não há perfume por onde passo. Sinto o enfraquecer da tarde no fim de novembro. E sou apenas um ser que passa, sem sentir o sangue do sol (meu corpo está adormecido) alegre do Nordeste.
Confesso que me assusto. Toda a minha vida eu fugi do vento, pois ele parecia ler meus pensamentos. Coisa de quem vive trancada num mundo interior. Acho mesmo que devia era ser folha. Eu podia sair por aí... numa animação de quem voa sem ter asas.
Engraçado é que estou o tempo todo a procurar de me lembrar de uma coisa que me aconteceu quando eu era criança. Sei que era verão. Como hoje. Eu subi numa árvore e estendi os braços. Eu procurava uma corrente de vento forte e ela não veio. Estava tudo tão quieto... (lê bem baixinho: Era como este teu silêncio). As folhas até caíam bailando ao chão, mansamente, mansamente. Que podia eu fazer na ocasião? Desci da árvore e voltei triste para casa. E... eu não quero desistir de ti.
São quase dezoito horas. Agora o sol já se foi descorado... Como se estivesse debaixo de alguns pensamentos tristes. Isso é curioso... Eu jurava que ele estava a rir... procurando me chamar para um pouco de calor! Bem, eu podia aproveitar a noite chegando e ir olhar se tem luar...

sábado, 20 de novembro de 2010

Amores esquecidos

Escrevo-te...

A janela voltada para o nascente. Afastou o vaso de flores encarnadas e apoiou os cotovelos no peitoril, escorando o queijo nas mãos. Olhou o sol e sorriu. Sentiu o peito tombar de emoção e não reagiu. Que estranha sensação era aquela em plena desilusão? Se não fosse o tom alaranjado do pôr-do-sol, diriam que estava de novo amor. Estava?
Era quase impossível: o último lhe viera acordando os sentidos julgados adormecidos pela viuvez. Enrolou-se nos sonhos. Tudo se passara rápido ou era apenas impressão? Uma lágrima se principiou em direção à boca, arrancando brasas no coração. Por ele se fora?, gemeu baixinho. Uma das mãos cuidou de segurar a lágrima. Tarde, porque o pranto já vinha de dentro.
Mas o que é isso, estou pensando nele outra vez? De novo? Examinou as cartas que escrevera nos longos meses. Todas guardadas nas lembranças. Sim, como lhe escreva palavras de amor.      
Enveredando um pouco nas recordações, tomou cuidado de acender nas horas em que sentia o perfume dele no quarto. Era um perfume másculo. Deu voltas no que tinha do amado. Não sabe mais do aroma. Mas fica vendo as palavras dele. E como ele mesmo dizia, não olhe tanto as flores, que elas murcham e não se pode passar a vida assim.
O sol foi-se escondendo, respeitando as normas de fim do dia. A mulher à janela suspirou. Tudo virou quietude. Por que as flores na janela não cheiravam? Apanhou os cotovelos e descansou os braços ao longo do corpo. Ainda vacilou quando a lua veio caminhando nos pés de cajus por entre as poucas folhas de novembro. Mas dentro dela o sonho de amor fora esquecido. Andou para a cozinha e foi fazer um café.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

 Querido,

É bom dormir sobre teu peito. Teu cheiro, encostado ao meu, acende-me o corpo  à noite e se conserva durante o dia em meu travesseiro. E sabes bem como adoro te apalpar por baixos das cobertas...
Hum, meu coração batendo os toques em euforia, pergunta: Pensas em mim por onde andas?
E como te amar é viver num reino encanto, digo-lhe: feche os olhos e pense somente nele!
E fecho-os. A verdade é que te vejo em meus sonhos... Eu já voei e atravessei todo o oceano... Tu já me viste por aí, em bater de asas? Não? Pois voo até em balões...
O dia inteiro cuido de trabalho, e ouço música e cantar de pássaros. Depois, escuto, bem na noite, os suspiros de meu coração que viaja em lembranças de nossos beijos, de nossas noites... “Não pensas mais nessas noites?”...
................................................................
Meu coração pergunta “Se teu amor tem outro nome”.
Não respondas logo, quero gritar... E vou dormir pensando em teu calor, na noite iluminada, a lua acesa...